cerco coreográfico n.1
(tradução livre de Andreia Yonashiro de “Statement”, públicado originalmente no programa do trabalho de “The mind is a muscle” (A mente é um músculo) de Yvonne Rainer)

As escolhas no meu trabalho estão predicadas ao meus próprios e peculiares recursos – obssessão da imaginação, talvez – e também um argumento contínuo de amor e desprezo à dança. Se minha raiva ao empoberecimento de idéias, narcisismo e exibição sexual disfarçada da maioria das danças pode ser considerada moral puritana, é também verdade que eu amo o corpo – seu peso, massa, sua fisicalidade.

De maneira geral, minha preocupação é revelar “pessoas” quando engajadas em diferentes atividades – sozinhas, com o outro, com objetos – e de “pesar” as qualidades do corpo humano em relação as qualidades dos objetos, longe da super estilização do dançarino. De um lado, interação e cooperação, do outro, substancialidade e inércia. A invenção do movimento, “dançar” num senso estrito, é um dos diversos fatores do trabalho.

Apesar das preocupações formais variarem em cada seção de A MENTE É UM MÚSCULO, podemos fazer uma afirmação genérica. Normalmente estou envolvida com mudanças assim que elas criam conflitos com uma ou mais constantes: detalhes executados num contexto de energia contínua (TRio A, Mat); frases e cominações em uníssono (Trio B); interatividade e movimentos mutuamente dependentes realizados num padrão do chão (Trio A); mudar padrões de chão e configurações desenvolvidas por um grupo em movimento ou por uma unidade singular (Filme, cavalos); mudanças na configuração de grupo entorno de uma área constante de foco (Act); e justaposições mais óbvias que envolve separações no espaço e no tempo.

A condição para a criação das minhas coisas é baseada na continuidade de meu interesse e energia. Assim como questões ideológicas não não pertencem a natureza do trabalho, nem o teor de condições políticas e sociais tem participação em sua execução. O mundo desintegra-se ao meu redor. Minha conexão com o mundo em crise permanece tênue e remota. Posso pre-ver um tempo quando esta distância deve deixar de existir, apesar de não saber quando ou como esta relação mudará, ou quais circunstâncias me incitará para uma ação diferente. Talvez nada do tipo de “recrutamento feminino militar” afetará minha função (o fato da disciplina física do dançarino tornará-o a primeira vítima); ou um pedido mundial para acabar com as funções individuais, incluindo o término do genocídio. Esta “afirmação” não é uma apologia. É o reflexo de um estado de espírito que reage com horror e descrença ao ver um vietnamita morto na TV – o horror não à visão da morte, mas ao fato de que a TV pode ser desligada da mesma maneira que fazemos no fim de um filme Western ruim. Meu corpo continua sendo a perpetuação da realidade.