cerco coreográfico n.1
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- O seu trabalho, de uma maneira significativa, está conectado ao entendimento das condições nas quais as ações políticas acontecem. Você deseja obter uma influência extensiva com estes trabalhos? Você acredita que tal influência não é mais possível nestes tempos? Ou é uma mera importância secundária para você?
- Esta não é uma pergunta simples. Se eu falar honestamente, quando eu estou trabalhando eu não me importo como isso pode afetar as pessoas.
- E quando você acaba?
- Então eu acabo. Estas coisas são todas importantes para mim. Com a limitação de que ninguém realmente se conhece. Você não deveria se analisar. Você não deveria fazer algo como eu estou fazendo com você agora. Eu diria que a coisa mais importante para mim é entender. Para mim, escrever é parte do processo de entendimento. A escrita é parte integral do processo de entendimento.
- A escrita te ajuda a ampliar sua própria percepção?
- Sim, porque algumas coisas foram estabelecidas. Se eu tivesse uma memória muito boa, e pudesse reter todos os meus pensamentos, eu duvido que teria escrito qualquer coisa. Eu conheço minha própria preguiça.
- Se você tivesse tal memória?
- Sim, mas eu não tenho. O que é importante para mim é o próprio processo do pensamento. Na medida que eu consiga levar o pensamento a cabo, estou satisfeita. Se eu consigo expressar o processo do meu pensamento de maneira adequada através do pensamento, isso também me satisfaz. Você me pergunta sobre o efeito do meu trabalho em outros. Se eu puder dizer ironicamente, esta é uma questão masculina. Homens sempre desejam ser influente. Se eu me vejo sendo influente? Não, eu quero entender. Se uma outra pessoa entende do mesmo modo que eu entendi, isso me dá um tipo de satisfação, de estar entre iguais.


- A essência dos intelectuais, de que uma pessoa fabrica idéias sobre tudo, ninguém nunca culpou ninguém por estar co-ordenado, porque ele tinha uma família para tomar conta. A pior coisa era algumas pessoas que acreditaram no Hitler. Por um Período curto. Eles inventaram idéias sobre Hitler. Em parte, coisas muito interessantes. Totalmente fantásticas, interessantes, coisas complicadas. Coisas muito distante dos níveis ordinários. Hoje eu digo que eles foram capturados pelas suas próprias idéias. Isso que aconteceu.

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- Pertencer a um grupo é uma condição natural. Você sempre pertence a um grupo quando nasce. Mas pertencer a um grupo num sentido secundário, se ajuntar a um grupo organizado, é totalmente diferente. Este tipo de organização tem a ver com o relacionamento com o mundo. As pessoas que se tornam organizadas neste sentido, o faz porque compartilham de interesses comuns. Eles têm os mesmos interesses, as mesmas relações com o mundo. A relação direta, pessoal, onde pode-se falar em amor, isso existe, ainda mais no amor real. Também existe num sentido na amizade. A pessoa é endereçada diretamente independente de sua relação com o mundo. As pessoas das organizações mais divergentes podem ainda ser amigas. Mas se você confunde estas coisas, se você traz o amor à mesa de negociação, eu considero isso fatal.
- Você considera isso apolítico?
- Sim, eu acho isso “unwordly” – fora do mundo. E eu realmente considero um grande desastre. Eu admito que o povo judeu é um exemplo clássico de pessoas que se mantêm de um maneira “unwordly” por muitos anos.
- O mundo sendo um espaço para a política?
- Exatamente.
- Os judeus foram um povo apolitizado?
- Não exatamente. As comunidades eram de uma certa maneira uma extensão política. O judaísmo é uma religião nacional. Mas o conceito de política era válida somente com grandes reservas. Os judeus sofreram uma falta de pertecimento porque eles estavam dispersos. Gerava um calor especial entre aqueles que pertenciam. Um calor que eu conheço muito bem. Mudou quando o estado de Israel foi fundado. De fato, mudou quando a Palestina foi fundada.
- Alguma coisa ficou perdido que você se arrepende?
- Sim, você paga duramente pela liberdade. A humanidade judia foi significada pela sua falta de uma terra natal. Era uma coisa muito bonita. Estar fora de todas conexões sociais, a completa abertura de pensamento, eu experimentei isso na minha mãe. Ela também exercia esta abertura como toda comunidade judia. Isso tinha uma enorme quantidade de charme. Você paga pela liberdade. Eu disse que esta humanidade nunca sobreviveu as horas da libertação por mais do que cinco minutos. Isso também aconteceu comigo.



- Num tributo a Jaspers você disse que a humanidade nunca é adquirida em solidão, ou ao entregar um trabalho ao público. Pode ser conseguido só por aqueles que lançam sua vida e a sua pessoa no reino público. Esta ventura pelo domínio público, uma cotação de Jaspers, o que isso significa para você?
- A ventura parece clara pra mim. Alguém se expõe a luz do público. Como uma pessoa. Apesar de eu ser da opinião de que uma pessoa não deve “aparecer” e agir em público conscientemente. Porém, eu sei que em cada ação que acontece, uma pessoa se expressa através de suas ações e de seu discurso. Discurso também é uma forma de ação. Isso é uma forma de ventura. A outra é começar algo. Nos lançamos numa rede de acontecimentos, o resultado disso nunca sabemos. Todos nós deveríamos poder dizer: Deus, perdoe-os, porque eles não sabem o que estão fazendo. Isso é verdade em todas ações. Simplesmente e concretamente verdade, porque não se pode saber. Isso que ventura quer dizer. Eu diria que esta ventura é possível quando há uma crença no ser humano. Uma crença que é difícil de formular, mas uma crença que é fundamental. Uma crença no que é humano em todas as pessoas. Senão, tal ventura é impossível.