cerco coreográfico n.1
Eu tive um problema em Frankfurt com financiamento. No começo eu só percebia as questões mais pontuais e específicas. Mas depois fui percebendo que o problema era maior. Um problema mais amplo e cultural e não algo pessoal contra minha pessoa ou específico relativo a companhia em si. Mas era o fato de que a dança não se materializa, ela depende de um tipo de “leitura”, uma leitura que permanece em suspensão, não é como no caso da ciência e das artes visuais. Em outras palavras, a ciência tem outros documentos e as artes tem os objetos, esculturas e pinturas. A ópera tem seus libretos, as partituras musicais, e nós não temos nada que as pessoas possam ler e examinar, por exemplo, por puro prazer; ou não há como as pessoas estudarem o que fazemos. Não há como publicar idéias. Então eu percebi que era um tanto ridículo culpar as pessoas por não entenderem algo que não era explicado. Que é como a dança funciona. Então eu pensei que precisava lidar com este problema. Você não pode culpar as pessoas por não saber, se não há o que saber. É legal que as pessoas possam se especializar, como coreógrafos, críticos e autodidatas vão adquirindo suas habilidades através da experiência. E acredito que no caso do público seja a mesma coisa. Mas será que há alguém que possa afirmar esta especialização além das próprias pessoas que criaram a dança, sobre a própria mecânica de seu funcionamento? Você pode dizer, isso tem a ver com isso, isso veio depois daquilo, isso se parece com aquilo, todo um leque de comparações, e que pode ser muito útil a longo prazo.

Já os criadores estão olhando para como as coisas são feitas, como o movimento surge e tentam entender como as decisões são tomadas para engendrar estes tipo de estado. E cada coreógrafo tem diferentes objetivos e interesses. Então, pensei, se pudéssemos ter uma iniciativa e começar a publicar nossas idéias, por mais loucas que elas se pareçam, talvez possamos adquirir uma possibilidade de leitura. Prover o mundo da arte algo que você possa ler diretamente sobre a dança. E com esta nova mídia você pode publicar a dança e a idéia ao mesmo tempo. Elas estão sincronizadas. Em outras palavras, logo que a dança termina ninguém pode dizer: você esta falando sobre o que? É possível demonstrar um movimento ou uma organização complexa.

Então, em “objetos sincrônicos” eu penso em inserir as pessoas. E por outro lado, tenho pensado como tenho aprendido muito com outras disciplinas, e talvez haja uma maneira de envolver dançarinos em outros campos.

Eu penso a coreografia como uma pratica organizacional.
" estaríamos talvez num momento da evolução “coreográfica” no qual é necessária uma distinção entre o estabelecimento de idéias coreográficas e formas tradicionais de seu acontecimento? Não como fruto de uma insatisfação em relação à tradição, mas como um esforço de alterar as condições temporais das idéias incumbidas nos atos, de fazer com que os princípios organizacionais persistam visivelmente "

Em "Choreographic Object"
http://www.williamforsythe.de/essay.html